terça-feira, 2 de junho de 2015

Uma Ética para Viver

     O renomado escritor e semiólogo, Umberto Eco, disse um dia: “quando o outro entra em cena, nasce a ética.” E observando o cotidiano do nosso bairro, vejo que talvez nos falte uma tomada de consciência no que tange a postura que assumimos em nosso convívio social. Temos, todos, o dever de sermos pessoas éticas, e o dever de compreender e vivenciar uma ética pública. Em outras palavras, temos o dever da consciência da supremacia do interesse público que prevalece sobre o particular. De compreender que o nosso bem-estar e a nossa liberdade não podem se dar em detrimento do bem-estar e liberdade do outro. A base de sustentação das ações de ética e cidadania está, dentre outros lugares, na organização social, na convivência pacífica e na educação. Estão relacionadas com as atitudes de cada um e com o modo de interagir com os outros. As ruas do nosso bairro refletem essas ações. Quando elas refletem algo que não nos agrada é momento de repensar nossas ações. Exercer a cidadania não significa apenas cobrar direitos, mas, também exercer deveres. 
     Temos utilizado muitas vezes esse espaço do JPA para essa reflexão, na esperança de transformar algumas realidades. Entretanto, nenhuma mudança se dará sem que façamos cada um a sua parte, todo dia. Com prudência e lucidez, sem deixar que o medo nos domine.
     É preciso trazer de volta a paz e tranquilidade que caracterizaram os bairros da região da Parquelândia, como Rodolfo Teófilo, Parque Araxá, Amadeu Furtado e outros. Construir novamente aquele clima que existia e que se pode encontrar nos depoimentos dos mais antigos moradores, nas pesquisas feitas sobre o bairro, por exemplo na internet. É certo que o tempo das cadeiras nas calçadas parece cada vez mais distante e até provoca preocupação ver algumas famílias teimarem a insistir neste hábito. Afinal, o perigo nos ronda (Aliás, essa palavra provoca saudade de um certo programa de governo que passeava no quarteirão, nos dando, ao menos, uma boa ilusão de segurança, e agora está a cada dia mais distante, deixando de ser rotina, transferindo-se para bairros mais nobres, como se nobres não fossem todos os bairros, toda a cidade).
     Nossa região abriga áreas cuja valorização por metro quadrado se dá a uma velocidade impar. Os aluguéis estão entre os mais caros e o valor dos imóveis atinge patamares elevadíssimos. Há, no entanto, um crescimento da violência, do desconforto e riscos provocados pelo tráfico de drogas e outros problemas comuns a uma grande metrópole. Mas, nem por isso deve-se cruzar os braços. É chegada a hora de exercermos definitivamente a cidadania que conquistamos.


(Artigo de autoria da renomada Cida de Sousa, Doutora em Comunicação e Cultura
e Professora da Universidade Federal do Ceará - UFC. Publicado na edição deste mês do JPA)