Por Cida de Sousa
Doutora em Comunicação e Cultura e Professora da UFC
Lembro com saudade minhas caminhadas pela Lagoa que, carinhosamente eu chamava de minha. Meus olhos se enchiam com aquelas imagens marcadas por lindas garças brancas como algodão. Certa vez contei cinquenta e duas. A população felina também enchia de beleza a Lagoa, embora me deixasse triste por saber como sempre foi crescente o abandono desses animais carinhosos e sedutores. Os peixes, as galinhas d’água, o sol clareando suas águas, enquanto eu e outras tantas pessoas caminhávamos, tentando manter a forma investindo numa vida mais saudável.
Acordar cedinho para caminhar ou caminhar no final da tarde, encontrar nas terças e quintas um grupo de pessoas de diferentes idades fazendo exercícios, comandadas por um profissional de educação física. Observar idosos fazendo uso da academia ao ar livre, mantida cuidadosamente para o usufruto de todos que quisessem. O coqueiral sempre me encheu os olhos de tão belos, e num determinado ponto ele mais parecia um cartão postal.
Eu gostava de sentar num daqueles banquinhos e apreciar o movimento das águas. Às vezes fazia isso da varanda de minha casa. E quando o sol se punha era ainda mais bela a minha, a nossa Lagoa. Porangabussu, a Lagoa, tinha uma estética que me fazia perceber e sentir toda a sua beleza. Uma estética que produzia emoções em mim. Uma estética que se perdeu graças ao descaso de nossos gestores. A saudade que sinto é tristonha e preocupada, pois não deveria ser essa a nova estética da Lagoa, hoje suja, privada de sua beleza, abandonada e cheia de perigos.
Ao tomar posse, a nova administração da cidade logo tratou de retirar da Lagoa a Guarita da Guarda Municipal que atuava de domingo a domingo e nos dava uma certa segurança (isso não se pode negar). E para que não restasse dúvida, a referida guarita foi derrubada, arrancada do chão como para que dúvida não restasse quanto à opção pelo abandono do lugar. O mato cresceu, a quadra de esportes foi sendo sucateada e nossa Lagoa foi sendo tomada por indivíduos que vivem à margem (da Lagoa e da sociedade).
Assaltos, hoje são comuns. A insegurança reina e não há nada que nos indique que a administração da cidade não esqueceu este pedaço importante da nossa Fortaleza. Abre-se, assim, a porta para a ação de pessoas mal educadas e anti-cidadãs que sujam a Lagoa e todo o seu entorno com seu lixo e sua falta de responsabilidade social. Porque quando falham as instituições, quando faltam o olhar e o trabalho de nossos gestores, abre-se espaço para o mau cidadão.
É bom lembrar que mutirões de limpeza já foram feitos por moradores conscientes de seu papel social. Entretanto, não há como organizar mutirões de segurança, por exemplo. Estamos, todos, cansados de esperar que autoridades e órgãos competentes façam seu trabalho. Não queremos abrir mão de nossas propriedades, nossos imóveis nos são caros e por eles pagamos impostos. Entretanto, nos vemos forçados a conviver com o descaso e a falta de vontade política em todos os setores da vida social desta linda cidade, na qual habita nossa (antes) tão bela Lagoa de Porangabussu. Vizinha dos Cursos da área de saúde da Universidade Federal do Ceará, do restaurante universitário do campus que recebe o mesmo nome da Lagoa. Eu e todos que amamos a natureza e amamos nossa cidade, queremos de volta a nossa Lagoa. Mas, não queremos esperar a próxima eleição para prefeitura, para que possamos tê-la. Então, com a palavra o Prefeito da cidade.
(Artigo publicado na edição deste mês do JPA)
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