O presidente da Escola de Samba Imperadores da Parquelândia abre a porta do estreito sobrado da rua Alagoas com a mão “cheia de cola”. Espécie de alquimista, transformava papelões e pedras falsas em esplendores e coroas. “Isso aqui é como se fosse uma faculdade. Você fica criando, desmancha uma coisa, faz outra”, mostra as estantes, as mesas, os armadores de rede plenos de penas e plumas. Raimundo Nonato, sapateiro de profissão, é diplomado em fantasias e adereços. Sabe multiplicar o verde, o vermelho e o branco da bandeira da escola em arco-íris.
O menino do Interior cresceu para ser presidente. Se não era o dono da bola, fez uma herança de tamborins, pandeiros, cuícas: “Os outros iam abandonando, casando, e eu, ficando... Comprávamos um instrumento fiado, pra dois ou três pagar. Não pagavam. Eu ia pagar e ficava com o instrumento, passava a ser o dono”. Rua Padre Guerra, ano 1975: dali partia o bloco de sujos de 25, 30 adolescentes, rumo ao corso da Aguanambi. “Era só a curriola”, refaz seu Raimundo, os 16, 17 anos.
Primeiro, brincavam como a turma do Capim Gordura. Com seu Raimundo puxando o bloco, passaram a se chamar Mocidade Independente de Padre Guerra, “eu morava lá”. Até que foram convidados a participar, oficialmente, do Carnaval de rua. E a escola ganhou samba e corpo: Imperadores da Parquelândia. “Tiramos Padre Guerra porque ficava muito reduzido a mim. Botamos um nome que abrange o bairro”, determinou o presidente. Isso, em 1981. Tempos de bingo, rifa, piquenique, tertúlias para arrecadar dinheiro. Ora na casa de seu Raimundo, ora na “churrascaria exclusiva pra gente fazer, o Besouro de Ouro. Foi como começamos”.
A churrascaria ainda é ponto de encontro dos Imperadores. É lá que comemoram o desfile, campeões, ou não. “Quando desfila legal, terminou, acaba o estresse. A gente fica satisfeito, o cansaço já era. Já ganhamos o título!”, festeja seu Raimundo. A propósito, na sala do sobradinho, estão os quatro troféus dos vice-campeonatos de 1993 a 96.
Comerciante nos outros dias do ano (tem uma loja de sapatos no Jardim Guanabara), o presidente da Imperadores da Parquelândia conformou-se em torcer futebol pelo rádio. Trocou o estádio de futebol pela avenida iluminada. Foi cowboy, entre tantas outras coisas. E continua realizando o sonho de infância, todo fevereiro. “Quando chega perto dos palanques, vem aquela emoção. Assim, como um artista quando vai entrando no palco”.
E-MAIS
> Cerca de 320 pessoas compõem a Escola de Samba Imperadores da Parquelândia. São passistas que também vêm de bairros como Jardim Guanabara, Carlito Pamplona, Rodolfo Teófilo, Bela Vista, Parque Araxá. Três costureiras, um magote de sobrinhos e outros voluntários colocam a escola na avenida. “À noite é que aparece mais gente pra ajudar”, conta o presidente da agremiação, Raimundo Nonato Ferreira.
> Este ano, dez alas vão atrás do samba-enredo “Amazônia, a luta vai continuar”. A composição de Maria Ivete da Silva Barros reencontra Chico Mendes (1944-1988), seringueiro que se tornou célebre pela luta em favor da preservação da Amazônia. A bateria, de 60 instrumentos, puxa este refrão: “Nossos imperadores/ neste belo Carnaval/ vem preservar a floresta/ lindo verde natural”.
> Os ensaios começaram na primeira semana de janeiro e seguem, às terças e quintas-feiras, depois das 18 horas, “no fim da (avenida) Jovita Feitosa, ao ar livre”, convida Raimundo Nonato. A Escola de Samba Imperadores da Parquelândia desfila no dia 24 próximo, às 18h20min. “Estou achando bom porque, ano passado, desfilamos uma hora da madrugada e não tinha mais ninguém”, festeja.
> Folião de uma vida inteira, o presidente da Imperadores da Parquelândia não se conforma em brincar só um dia de 40 minutos. Queria desfilar os três dias. E calcula ser o Pré-Carnaval um negócio melhor: “Você brinca cinco sábados. Né possível que não mate o verme!”. Outra queixa contra a Prefeitura é o atraso na liberação da verba. A escola espera R$ 14 mil, prometidos em edital. “Nessas alturas, ninguém recebeu um centavo”, reclama.
(Matéria transcrita do jornal “O Povo”, edição de 12/2/2009)
Um comentário:
oi juracy...
é muito bom a gente saber de gente de garra como o seu Raimundo...
e é muito importante a gente saber da luta perseverança e dessa alegria q deve ser o coração desse folião...
a gente v o povo passando na avenida e nem imagina a luta q foi chegar até ali...
agradeço por esse belíssimo artigo... dá até vontade da gente entrar de cabeça e participar dessa preparação toda...
bjsssssssssss primo e tudo de bom pra VC.
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