No dia 18 do mês passado, mais um adolescente foi assassinado em Fortaleza. O fato, que aconteceu na Barra do Ceará, recebeu de alguns órgãos de comunicação da cidade o tratamento de “tragédia familiar”. Segundo consta, Luiz Carlos Fidelis de Brito, de 43 anos, chegou em casa embriagado e começou a maltratar a esposa. O filho dele, que também se chamava Luiz Carlos, de 16 anos, saiu em defesa da mãe e levou vários golpes de faca no peito, que lhe causaram a morte. Detalhes que chamam a atenção: o acusado estava desempregado e já respondia a processo na justiça por homicídio; o adolescente, com o braço engessado por conta de um acidente de mobilete, era envolvido em crime de receptação; e sua namorada está grávida de seis meses.
Infelizmente, entre nós, isso já virou rotina. Centenas de jovens, principalmente do sexo masculino, estão perdendo suas vidas por motivos diversos, mas quase sempre tendo como pano de fundo o tráfico de drogas e de armas, exploração sexual, tráfico humano, assaltos, sequestros, queimas de arquivo e, também, a resolução violenta de conflitos interpessoais. Somente no ano passado, pelas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, 1.013 adolescentes e jovens, entre 12 e 24 anos de idade, foram vítimas dessa verdadeira guerra urbana que estamos vivenciando na capital cearense.
Guerra urbana que, por sinal, só é aceita como normal em países onde a maioria dos prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores e até os presidentes se elegem pensando apenas em seus futuros políticos, relegando o bem-estar da coletividade a um plano infinitamente inferior. Por conta disso, nossos homens (e mulheres) públicos ficam sem tempo para pensar em medidas eficazes para combater a criminalidade, que passa por mais investimentos, ações e projetos nas áreas de educação, saúde, segurança pública e geração de emprego e renda para a juventude.
Em nações assim, como o Brasil, quase todos os veículos de comunicação também são culpados. Em busca da audiência fácil, reservam espaços generosos para divulgação de festas, jogos de futebol, novelas, BBB’s e outras futilidades... Aí, de vez em quando, até por desencargo de consciência, mostram alguma matéria ou programa que realmente venham a contribuir para o nosso crescimento intelectual, como, por exemplo, o incentivo à leitura, o comprometimento com a paz, a valorização dos laços familiares e outras atitudes que nos levariam a uma vida saudável.
Pior mesmo é ver que assistimos a tudo isso de braços cruzados, porque estamos perdendo a capacidade de nos indignar. A não ser quando a brutalidade do dia-a-dia atinge diretamente algum parente e/ou amigo nosso...
(Editorial do JPA de março, que começa a circular depois do Carnaval)
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