sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

De encantos, aviões e vulgaridades...

       Peço licença a vocês para tecer comentários sobre alguns tópicos do programa “Encanta Ceará”, que a TV Verdes Mares (Canal 10) apresentou no dia 2 deste mês, tendo como destaque a banda Aviões do Forró, evento que, na minha modesta opinião, foi um belo exemplo de como determinados empresários e meios de comunicação manipulam informações a fim de vender produtos fabricados para fazer sucesso explorando a ignorância cultural do povo cearense. E, o que é pior: contando com apoio do Governo do Estado.
      Num primeiro momento, quando se vai assistir a um programa intitulado “Encanta Ceará”, vem a impressão de que seu objetivo principal é enfocar as trajetórias de artistas cearenses que se destacam por seus talentos no mundo da música. Porém, não foi o que vimos na referida data. Os textos e imagens ficaram centrados apenas no cantor e na cantora da banda. Ele, norteriograndense; ela, baiana. A produção ignorou por completo as bailarinas, que, segundo consta, são as inspiradoras do nome Aviões do Forró, bem como os outros músicos (sanfoneiro, guitarrista, baixista, baterista, percussionistas, pessoal dos sopros etc.).
      E aqui cabe uma perguntinha assaz inquietante: se era para mostrar a história da banda, por qual motivo não apareceram nem uma vez sequer imagens de quando a cantora era gorda? Já sei, como a intenção era realmente maquear o produto, preferiram mostrar a moça somente com o corpinho de “boneca” que ela adquiriu há pouco tempo, após fazer uma cirurgia de redução de estômago. Foi isso?
      Mas o que me deixou indignado mesmo, no desenrolar do tal programa, foi a afirmação de um dos donos da Aviões do Forró de que a banda faz sucesso porque trabalha com um forró diferente, sem tristezas, lamentos e sofrimentos do povo nordestino diante da seca. Ou seja, nas entrelinhas, o empresário quis dizer que começou a encher os bolsos de dinheiro quando passou a renegar o forró legítimo (que tem Luiz “Lua” Gonzaga como ícone maior) e forçou o povo a dançar, ouvir, cantar e idolatrar músicas onde os destaques são frases ridículas como “sou raparigueiro”, “sou cachaceiro”, “vou beber, cair e levantar”, “bebo pra carai”, “se me odeia, deita na BR”, “chupa que é de uva”, dentre outras vulgaridades.
      É complicado aceitar tudo isso calado, principalmente quando lembro que a música cearense um dia já foi representada no mundo inteiro por Fagner, Belchior, Ednardo, Amelinha...

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