A senhora Francisca da Silva Muniz (foto), conhecida carinhosamente como Dona Nenzinha, pode ser apontada como uma das moradoras mais antigas do Parque Araxá. Ela tem 86 anos e, ao longo do tempo, vem acompanhando as transformações pelas quais o bairro passa, tanto no modo de viver das pessoas como em relação à infra-estrutura, comércio, prestação de serviços etc. A idade, que para muitas pessoas pode ser considerada avançada, não a impede de continuar seguindo a rotina normal de uma dona-de-casa, de cozinhar, varrer e espanar, ir ao supermercado, ir ao Centro, tudo isso sozinha, e caminhando com as próprias pernas. É por isso que alguns familiares, amigos e vizinhos a chamam de “mulher elétrica”.
Dona Nenzinha nasceu no dia 8 de setembro de 1928 na rua da Cachorra Magra (atual Marechal Deodoro), no Benfica, e com apenas 10 meses de idade veio morar na rua Carvalho Mota, na região então denominada de Granja Paraíso. Seu pai, José Silvestre da Silva, conhecido como Zé Amâncio, possuía uma das mercearias mais sortidas do bairro. Estudante do extinto Colégio João Pessoa, que ficava ao lado do Colégio Juvenal de Carvalho (no bairro Damas), a menina cresceu desfrutando da vida aprazível que a época proporcionava, andando pelos sítios, comendo diferentes tipos de frutas, acordando muito cedo para tomar leite mugido numa vacaria, além de muitas brincadeiras com amigos e amigas.
“Nossa maior diversão era ir para as festas dançantes promovidas aos domingos por um senhor chamado Luís Reis lá pras bandas do Coqueirinho, que hoje chamam de Parquelândia. Muitos namoros começavam e terminavam por lá porque as moças e rapazes da época tinham o local como ponto de encontro semanal”, afirma Dona Nenzinha. Ela relembra também do movimento de pessoas de fora que frequentavam o saudoso restaurante Pombo Cheio, e também dos homens e mulheres que passavam pela rua em direção ao famoso Cabaré da Santa. “Esses dois estabelecimentos fizeram muito sucesso no Parque Araxá de antigamente. Cada um a seu modo, claro.”
O casamento aconteceu em 1947. Seu esposo José Raimundo Muniz (in memorian) também era bastante conhecido no bairro, principalmente porque durante muitos anos ele foi presidente do ISPRE – Instituto Social da Paróquia dos Remédios. “Os moradores mais antigos por certo ainda se lembram das ações que eu e meu marido criávamos para ajudar a melhorar as condições de vida no bairro, principalmente para as comunidades mais carentes. Festas, quermesses, bingos, leilões, tudo a gente inventava para conseguir recursos e trazer calçamento, iluminação e outras melhorias, além de ajudar famílias a construir casas, adquirir móveis, conseguir vagas em escolas, consultas médicas, remédios”, ressalta. A memória traz à tona também os longos anos que ela passou comandando a cantina do Colégio Deoclécio Ferro, quando o mesmo funcionava onde está instalado atualmente o Colégio Maria Montfort, período em que fez muitas amizades que perduram até os dias de hoje.
O casamento lhe rendeu 14 filhos, dos quais 12 se criaram, no caso Lucinho, Solange, Sandra, Neuma, Neide, Luciene, Vanda, César, Ernane, Meirinha, José e Eudo (in memorian). Ela destacou-se também como cantora nos casamentos que eram realizados antigamente na Igreja dos Remédios, tanto que atualmente sua voz ainda é ouvida com nitidez no coral que anima missas na Capela de São Operário.
Que Deus lhe conceda mais muitos e muitos anos com essa disposição para a vida, Dona Nenzinha!
(Transcrito do JPA de agosto/2014)
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