sábado, 10 de outubro de 2009

44 anos de saudades

Seu Floriano,

Não sei se, de onde o senhor está, dá para ver que nestas últimas quatro décadas e meia, em todo dia 10 de outubro, levanto-me da cama com o rosto banhado em lágrimas. É que nesta data, quando acordo, vem à minha mente aquela fatídica tarde de domingo de 1965, quando o primo Dedé adentrou às pressas na rua em que a gente morava, no Pirambu, para comunicar o seu falecimento num acidente de carro lá pras bandas de Maranguape.

Eu era muito pivete na época; não sabia de quase nada da vida. Mas já admirava seu aspecto de homem bondoso, que tratava eu e meus irmãos com muito carinho; que nos dava tantos presentes bacanas; que nos levava para agradáveis passeios por vários lugares (principalmente Guaiúba, sua terra natal); que quase todos os dias ia nos deixar ou buscar na escola; enfim, que era o pai que qualquer filho gostaria de ter.

Cresci guardando essas boas lembranças. Minha mãe sempre disse que você era um sujeito simples, que acreditava na força do trabalho para vencer na vida, que tratava a todos com alegria e educação, daquele tipo que fazia festa onde chegava e que dava “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” a todas as pessoas que encontrasse pela frente, independente de elas serem suas conhecidas ou não. Ao longo do tempo, conversando com outros parentes e amigos que chegaram a desfrutar da sua convivência, cheguei à conclusão de que o senhor também tinha defeitos, claro, mas que eles não significavam quase nada diante das suas virtudes.

Todo dia 10 de outubro, quando lembro da sua partida tão brusca, fico imaginando como seria minha vida se você estivesse ao meu lado, me mostrando o certo e o errado, me amparando nas quedas, me estimulando a seguir sempre em frente. Será que, diante de tanta proteção, eu teria enveredado pela marginalidade? Será que eu seria hoje um homem rico, daqueles que não sabem nem como gastar tanto dinheiro que possuem? Ou seria este cidadão comum, que, se ainda não é bem sucedido materialmente na vida, pelo menos sente-se orgulhoso e feliz em ganhar o pão de cada dia de maneira pacata e honesta, seguindo o exemplo que o senhor deixou para os filhos, netos e bisnetos?

Queria dizer-lhe outras coisas, mas vou parar por aqui, pois nenhuma frase ou palavra é suficiente para expressar essa saudade que hoje completa 44 anos. Prefiro rezar um Pai-Nosso e três Ave-Marias em sua memória, rogando a Deus para que continue mantendo-o num bom lugar...


Meu pai, Floriano dos Anjos Machoca, faleceu no dia 10 de outubro de 1965
(Foto extraída do livro “Retratos de Família”, lançado pela minha prima Catarina Diogo em 2005)

3 comentários:

Izaira disse...

Sim, Primo! Bênza-o Deus!
Pai, na vida da gente, é assim: quando, à sua maneira, se faz presença em nossa vida, fica na gente, identifica-nos. Daí, quem tem a Graça de viver esta presença n'alma, sente gosto de plenitude e não consegue dela desgrudar-se!
Só nos resta, de coração, pedir suas bênção, Eles nos velam!
Seu Pai é um dos habitantes de minha memória. - "Chegou o Titio Floriano!" E era aquela alegria! Igual ao que acontecia quando minha Vóvó Joaninha (irmã dEle) chegava!
É bom ser Família!
Beijos

Joanice disse...

Meu irmão, assim como você sente saudades do seu querido pai, também sinto saudades de minha querida mãe. O Senhor a levou há quatro anos. Me solidarizo a você.
É um rompimento brusco e cruel.
Deus te abençoe.

Catarina Diogo disse...

Gostei muito de sua matéria...
muito tocante de muito afeto.
Sempre nessa época do ano, festa de SÃO FRANCISCO, movimento de romarias, vaquejada de itapebussu... lembro do TIO FLORIANO... e sempre minhas orações vão pra ele, de maneira especial.
estamos ligados nos sentimentos.
tudo de bom pra vcs.
bjssssssssssss