Os leitores mais jovens talvez não acreditem. Porém, os antigos estão aí para comprovar que o que vamos escrever é verdade: o futebol já foi uma diversão acessível a famílias de baixa renda.
Até pouco tempo atrás, o cidadão que pertence a esse segmento econômico tinha condições de comparecer aos estádios para prestigiar todos os jogos do clube do seu coração. E ainda levava a esposa, filhos, sobrinhos, vizinhos... Até os gatos e cachorros, se quisessem, iam!
Isso era possível por causa dos preços dos ingressos, que permitiam a entrada dos chamados “geraldinos” (porque ficavam na geral) e ainda sobrava grana para a meninada se empaturrar de cachorros-quentes (conhecidos como “cai-duro”), refrigerantes, picolés, pipocas, roletes de cana, rosca, broa, milho, laranja e o que mais aparecesse pela frente.
Essa “farra” começou a mudar quando os jogadores passaram a encarar o referido esporte apenas como um negócio onde se deve auferir o maior lucro possível, vindo daí os salários astronômicos de alguns deles. Isso foi afastando o torcedor mais humilde, que atualmente já não pode comparecer aos estádios com tanta freqüência. E quando vai, é quase sempre sozinho, pois, com entradas custando em média R$ 30,00, é impossível ver todos os jogos, já que o investimento, incluindo ingresso, transporte e lanche, chega a praticamente R$ 50,00 por pessoa.
Em Fortaleza a coisa se agravou a partir das reformas feitas recentemente nos estádios Presidente Vargas, no Benfica; e Castelão, que privilegiaram espaços para o pessoal da classe média acima, ignorando solenemente a presença daquelas pessoas que, no passado, faziam a festa na geral.
No Castelão ficou pior ainda, pois além da grande distância, dificultando os deslocamentos, construiu-se uma estrutura onde o torcedor comum, mesmo pagando caro, ainda é obrigado a ficar nas cadeiras superiores, enquanto as cadeiras inferiores, mais próximas ao campo, ficam vazias. Quem vê as imagens pela televisão pensa que os jogos estão sendo realizados de portões fechados.
É isso... Fazer o quê, não é? Antigamente, quando os dirigentes e jogadores tinham amor aos clubes, na época do chamado “futebol-arte”, eles contavam com o pouco de muitos torcedores. Mas hoje o que vale é o contrário: preferem o muito de poucos. Depois ficam se perguntando por qual motivo as praças de esportes estão quase sempre vazias.
(Artigo de minha autoria a ser publicado no Jornal Parque Araxá - Edição de setembro)
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