sexta-feira, 7 de maio de 2010

O fazer poético de Homero Arruda

Antônio Diogo Fontenelle de Lima
(Poeta, odontólogo e doutorando em Sociologia pela U.F.C.)

Homero Arruda repensa a fragilidade da condição humana mediada por uma revisitação do viver e do sonhar contemporâneos em busca do Eterno feito estrelas – reais, mas ainda fictícias! Neste sentido, Arruda se faz poeta ao dedilhar um olhar lírico prenhe de uma visão de mundo tingida pela questão social, resultante de uma vivência atenta ao ofício de ser homem em meio a um contexto de desigualdades e negações, sem perder a dimensão maior do milagre da vida expresso numa tessitura literária vazada por um lirismo pleno de fé e paixão pelo estar vivo.

Percebe-se que o referido poeta enxuga o verbal à exaustão, em busca de uma concisão permitida apenas ao domínio poético, onde a escrita se transmuta em síntese, essência das essências, néctar em concentração extrema. Neste aspecto peculiar do fazer poético, Arruda anima a palavra de poderes insuspeitos, de imagens-relâmpago que seduzem o leitor para reinos que beiram o maravilhoso dos “faz-de-conta” do imaginário infantil. Deste modo, é que o homem feito e letrado – Homero Arruda - ao desatar sua paixão pela amada, encontra abrigo na luz do olhar do menino que “todas as tardes jardina oceanos de cores em florestas de luz”.

Arruda, no seu verso enxuto e denso, mel mais-que-apurado, resgata o saber adquirido permeado por incertezas ancestrais e contemporâneas, a dor e a crença do homem em luta por sua humanidade negada, muitas vezes pelo próprio homem. Acima de tudo, o nosso poeta resgata o sonhar do menino náufrago que aporta - sem aviso – a qualquer momento e a qualquer lugar do viver.

Eis o poeta do “conflito” perdido entre o sonho e os desvãos do “medo nas ruas, nas praças, nas camas”, a orquestrar sua solidão, seu silêncio povoado pela denúncia do sangrar de sua condição humana efêmera e transitória, tecida entre as miudezas do dia-a-dia, mas enamorada pela infinitude da dimensão última que o homem pode recorrer no seu desamparo, que é sem dúvida: o pacto com a Poesia!

(Trancrito do JPA, edição nº 124)

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